História do Brasil no Motocross das Nações

Com os principais campeonatos do mundo se encerrando, as atenções se voltam para o Motocross das Nações. Por isso o BRMX traz este resgate da história do Brasil no MXoN.

A primeira parte, que corresponde até 2010, foi elaborada por Elton Souza na época que ele acompanhou o time brasileiro no MXoN de Lakewood, no Colorado, Estados Unidos. Por fim, o texto recebe um complemento dos anos seguintes para fechar a história tupiniquim na competição mais glamurosa do motocross mundial.
O Brasil já correu o MXoN em 16 oportunidades. Da primeira participação do time brasileiro formado por Cristiano Lopes, Gilberto “Nuno” Narezzi e Rogério Nogueira, em 1997, até os dias atuais, muitas coisas mudaram, outras seguem iguais. Acompanhe!

Estreia no Motocross das Nações

Cristiano Lopes e Massoud Nassar já representaram o país – Foto: Elton Souza / BRMX

Cristiano Lopes representou o país nas três primeiras edições que o Brasil esteve no Motocross das Nações – 1997, 1998 e 1999. A estreia da seleção verde-e-amarelo aconteceu em Nismes, na Bélgica.
Lopes conta que a experiência ficou marcada em sua memória porque, por ser o batismo brasileiro na competição, a seleção foi muito bem recebida pelos torcedores dos outros países e logo conquistou o carisma de todos.
– Tudo era novidade. Apesar de já termos disputado etapas do Mundial, correr no Nações era algo diferente, porque dependíamos do sucesso de todo o time. Tivemos o apoio da Honda Europa e recebemos dicas da equipe que já conhecia o traçado. E, apesar de não termos conseguido nos classificar, colocamos o Brasil entre as cinco melhores equipes na repescagem. Para nós, tudo era festa, e uma grande emoção o momento em que o time foi apresentado e surgiu a bandeira do Brasil – conta.
No ano seguinte, o Nações foi disputado na Inglaterra. O time brasileiro era formado novamente por Cristiano Lopes e Rogério Nogueira. O novato Paulo Stedile completou o time e sentiu a pressão.
– Correr na Inglaterra foi um choque para mim. Eu estava muito nervoso por participar pela primeira vez do Nações em uma pista muito famosa – lembra Stedile.
A edição foi disputada no tradicional circuito de Foxhills, e Cristiano Lopes conta que a chuva atrapalhou a festa do esporte.
– Na Europa, se falava muito em Foxhills, uma pista muito tradicional. Mas, choveu muito nos treinos de sábado, e partes do traçado foram cortadas da prova. A chuva, com certeza, atrapalhou a festa – comenta.

Brasil no circuito mundial

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Foto do arquivo pessoal de Mau Haas, editor do BRMX, no MXoN 1999 ao lado dos amigos e de Stefan Everts

O ano de 1999 ficou marcado na memória dos torcedores brasileiros que puderam assistir “em casa” o Motocross das Nações. A seleção brasileira foi formada por Cristiano Lopes, Paulo Stedile e Rafael Ramos.
O local escolhido para receber a competição foi a recém-inaugurada pista de Indaiatuba, a 90km da capital de São Paulo, e parte do Centro de Treinamentos da Honda. Ricky Carmichael, pelos Estados Unidos, e Stefan Everts, pela Bélgica, foram algumas das estrelas que correram por aqui.
Lopes se recorda que a Honda Europa forneceu a consultoria na preparação das motos dos pilotos brasileiros e, por sediar a competição, a seleção verde-e-amarelo tinha garantida a classificação para a final.
– Nesta prova eu consegui conquistar uma marca interessante entre os pilotos brasileiros que foi a de andar mais de dez voltas entre os seis primeiros colocados – destaca.
– Lembro que, por ser no Brasil e já estarmos classificados, a equipe toda andou bem – ressalta Stedile.

Mudanças no motocross brasileiro

Chumbinho representou o Brasil em uma oportunidade como piloto – Foto: Mau Haas / BRMX

Em 2000, o Motocross das Nações foi disputado na França, em Saint Jean D’Angely. O time brasileiro formado por Massoud Nassar, Roosevelt Assunção e Milton “Chumbinho” Becker foi eliminado na repescagem.
Mas, a edição francesa ficou marcada na história do motocross nacional porque, pela primeira vez, um piloto brasileiro correu o Nações com uma motocicleta de marca diferente a Honda. Massoud Nassar, patrocinado pela Yamaha, substituiu Cristiano Lopes, que se machucou duas semanas antes da prova.
– Este foi o maior feito naquela edição do Nações. Até então, a seleção brasileira só tinha andado de Honda – destaca Manuel Carlos Hermano, o Cacau, que acompanhou Nassar na prova francesa.
Chumbinho Becker lembra que a estrutura que a seleção brasileira utilizou na França era muito precária.
– Foi muito difícil. Não tinha o que comer, o que beber e caímos na repescagem. Porém, a partir dessa experiência, percebemos que as pistas no Brasil eram muito lentas. Então, marcamos uma conversa com os dirigentes da CBM para pedir que as nossas pistas passassem a ser mais rápidas e com traçados diferentes – conta.
O ano seguinte, 2001, encerrou um ciclo dentro do motocross nacional. O Nações foi disputado novamente na Bélgica, em Namur, e os três pilotos da seleção brasileira andaram com motos Yamaha. Cacau assumiu o cargo de chefe da equipe e escalou Paulo Stedile, Douglas Parise e Massoud Nassar.
– Fiz tudo sozinho. Recebi somente quatro passagens da CBM e selecionei os melhores pilotos classificados no campeonato – conta.
Sem contar com um reserva, a equipe brasileira acabou sofrendo uma baixa ainda nas baterias do sábado. Douglas Parise quebrou o ombro direito na prova classificatória e desfalcou o time brasileiro na bateria de repescagem.
Nos anos de 2002, 2003, 2004, 2005 e 2006 o Brasil ficou fora da competição.

Avanço nos resultados

Wellington Garcia já representou o Brasil em três oportunidades – Foto: Marco Dotto / BRMX

Em 2007, a Honda voltou a enviar sua equipe para o Nações. Os escolhidos foram Antonio Jorge Balbi Júnior, Wellington Garcia e Leandro Silva. O trio conseguiu uma façanha inédita para o esporte brasileiro ao classificar o time para as baterias decisivas ao vencer a Final B. O Brasil terminou a competição realizada em Budds Creek, no Estados Unidos, em 16º lugar geral.
Wellington Garcia comenta:
– A experiência foi muito boa, mas também muito difícil. Por mais que você esteja preparado, a primeira vez sempre é muito complicada e você acaba travando. O que posso dizer é que recebemos toda a estrutura da Honda e o time era muito bom – conta.
Balbi Júnior, com o nariz quebrado, tem uma história de superação para contar de sua primeira convocação:
– Não queria perder a oportunidade, mas cheguei a estar fora do time por estar com o nariz quebrado. Fui para a competição no esforço máximo. Lembro que era muito quente, fez uns 40ºC, e baixa umidade. Cheguei a desmaiar durante a classificatória da Open e fiquei desidratado. Mesmo assim, foi um sonho realizado – lembra.
No ano seguinte, Balbi Júnior, Wellington Garcia e Leandro Silva vestiram novamente o uniforme verde-e-amarelo. Desta vez, o Motocross das Nações foi disputado em Donington Park, na Inglaterra.
– Eu havia acabado de voltar de uma cirurgia no pé, isso dificultou muito meu desempenho e atrapalhou a equipe. Com certeza foi o meu pior ano no Nações – reconhece Wellington Garcia.
O Brasil precisou buscar sua classificação na Final B, no domingo de manhã, e conquistou o 14º lugar na classificação final.
– Naquele ano, tive um excelente desempenho pessoal e, pela primeira vez, terminamos entre as principais equipes do Nações – acrescenta Balbi.
Em 2009, em Franciacorta, na Itália, o Brasil deu mais um passo em sua evolução ao garantir a classificação para as baterias finais nas provas classificatórias de sábado. Na classificação final, o time formado por Antônio Jorge Balbi Júnior, Wellington Garcia e Swian Zanoni repetiu a 14ª colocação alcançada no ano anterior.
– Foi muito bom. Conseguimos um excelente resultado e classifiquei o Brasil terminando a bateria na frente de Max Nagl – disse Balbi Júnior, que assegurou a nona posição na bateria da classe Open.
– Acredito que 2009 foi o ano mais difícil que enfrentamos. Havia 39 seleções disputando o Motocross das Nações, e o resultado do Balbi fez com que nos classificássemos direto – avalia Wellington Garcia.

Muda o patrocinador

Balbi Junior em 2011 – Foto: Maurício Arruda / Broop

Em 2010, a Honda e CBM estavam afastadas e o time foi bancado pela Pro Tork, então patrocinadora do campeonato brasileiro de motocross.
A convocação dos três pilotos – e do reserva – tomou por critério a classificação no campeonato nacional. Antônio Jorge Balbi Júnior e Cristopher “Pipo” Castro foram selecionados para disputar as categorias Open e MX2, respectivamente. Marcello “Ratinho” Lima estava cotado para correr na MX1, mas se machucou uma semana antes. Anderson Cidade assumiu a vaga às vésperas da competição.
Mesmo com a seleção verde-e-amarelo desfalcada para a 64ª edição do Motocross das Nações em Lakewood, nos Estados Unidos, o time voltou a fazer história em participações brasileiras na competição e garantiu sua vaga na final com o 18º lugar nas baterias classificatórias de sábado.
– Foi um resultado extremamente positivo, afinal, perdemos o Thales e o Ratinho que se machucaram uma semana antes da competição. Mesmo com estas dificuldades, o time rendeu muito bem e estou muito feliz, principalmente com meu desempenho – avaliou Balbi Júnior, que foi o oitavo colocado individual na categoria Open, em seu melhor resultado no Motocross das Nações.
Em 2011, mais uma vez a Pro Tork estava a frente do time. Balbi Junior, Marcello “Ratinho” Lima e Dudu Lima foram a Saint Jean D’Angely, na França, representar o time verde-amarelo, que terminou na 27ª posição na classificação geral.
Depois de não se classificar nas provas de sábado, a seleção brasileira tentou chegar às finais pela repescagem. O Brasil esteve próximo da classificação, mas um grave acidente envolvendo Balbi Junior faltando três voltas para o fim da prova pôs fim às esperanças dos brasileiros. O piloto foi atendido pela equipe de socorro, encaminhado ao hospital da região e liberado horas mais tarde.

Yamaha entra na jogada

Estrutura do time brasileiro em 2012 – Foto: Mau Haas / BRMX

No ano de 2012, com nova direção na CBM (Alexandre Caravana havia saído para a entrada de Firmo Alves), se tentou fazer uma convocação pelo ranking do campeonato brasileiro mais uma vez. Balbi Junior, Wellington Garcia e Hector Assunção foram escolhidos, mas seus patrocinadores, Pro Tork no caso de Balbi e Honda nos casos de Wellington e Hector, teriam que arcar com as despesas do time.
A Honda disse não à convocação, e Manuel Carlos Hermano, o Cacau, entrou em cena outra vez oferecendo um time à CBM – e com ele trouxe o apoio da Yamaha. Por fim, Balbi também desistiu de ir e a seleção foi montada com os inexperientes Gabriel Gentil, Rafael Faria e Marçal Müller.
Em 2013, o Brasil teve a mesma estrutura de Cacau, que tem boa relação com a Yamaha na Europa e consegue todo suporte para o time verde-amarelo com as motos azuis. A equipe foi formada por Anderson Cidade, Rafael Faria e Hector Assunção, que não conseguiram passar da repescagem.
2014 foi um ano difícil para Cacau selecionar o time. Alguns pilotos estavam lesionados e outros envolvidos com a final do Arena Cross, que aconteceu no mesmo fim de semana. Para não deixar o Brasil fora do evento, o empresário recorreu a dois ex-pilotos profissionais que brilharam no passado: Rodrigo Selhorst e Roosevelt Assunção.Thales Vilardi, que vivia grande fase na MX2, se juntou a eles mas teve que competir na Open para que Selhorst corresse na 250, categoria na qual foi campeão brasileiro em 2008.
Em 2015 e o Brasil teve Jean Ramos, Fábio “Moranguinho” Santos e Thales Vilardino elenco para a disputa em Ernée, na França. Outra vez, chegaram perto mas não passaram da repescagem. Jean Ramos estava em terceiro na Final B quando caiu e as chances do Brasil chegar às finais ficaram pelo caminho.
Chegou 2016 e o time teve novamente Jean Ramos e Fabio Santos com o acréscimo de Ramyller Alves. Mesmo com motos melhores preparadas e os atletas mais experientes, a vaga na final escapou. O país terminou na 24ª posição.
Neste ano de 2017, Manuel Carlo Hermano, o Cacau, segue à frente da esquadra brasileira apesar de a equipe deixar de ser formada exclusivamente por pilotos Yamaha. Os irmão Dudu e Ratinho Lima voltam a defender o país com suas Kawasaki, e Fabio Santos está no time pela terceira vez consecutiva.

Um time misto

Fabio Santos vai para seu terceiro MXoN – Foto: Cesar Araujo

Em 2018, pela primeira vez na história do Brasil no MXoN, o time escolhido vai correr com três marcas diferentes de motocicleta.
Gustavo Pessoa (Kawasaki), Enzo Lopes (Suzuki) e Fabio Santos (Yamaha) foram escolhidos por critérios técnicos.
A meta é colocar o Brasil entre as 20 nações que correm as finais no domingo.

Histórico dos times

1997 – Bélgica
Local: Nismes
Posição final: eliminado na repescagem
Equipe: Cristiano Lopes (250cc); Gilberto “Nuno” Narezzi (125cc); Rogério Nogueira (Open)

1998 – Inglaterra
Local: Foxhills
Posição final: eliminado na repescagem
Equipe: Cristiano Lopes (250cc); Paulo Stedile (125cc); Rogério Nogueira (Open)

1999 – Brasil
Local: Indaiatuba
Posição final: 15º (por ser sede da competição, o Brasil teve sua vaga garantida para a final)
Equipe: Rafael Ramos (250cc); Paulo Stedile (125cc) e Cristiano Lopes (Open)

2000 – França
Local: Saint Jean D\’Angely
Posição final: eliminado na repescagem
Equipe: Massoud Nassar (250cc); Roosevelt Assunção (125cc) e Milton “Chumbinho” Becker (Open)

2001 – Bélgica
Local: Namur
Posição final: eliminado na repescagem
Equipe: Paulo Stedile (250cc); Douglas Parise (125cc) e Massoud Nassar (Open)

2007 – Estados Unidos
Local: Budds Creek
Posição final: 16º
Equipe: Wellington Garcia (MX1); Leandro Silva (MX2) e Antônio Balbi Júnior (Open)

2008 – Inglaterra
Local: Donington Park
Posição final: 14º
Equipe: Leandro Silva (MX1); Wellington Garcia (MX2) e Antônio Balbi Júnior (Open)

2009 – Itália
Local: Franciacorta
Posição final: 14º
Equipe: Wellington Garcia (MX1); Swian Zanoni (MX2) e Antônio Balbi Júnior (Open)

2010 – Estados Unidos
Local: Lakewood
Posição final: 18º
Equipe: Anderson Cidade (MX1); Cristopher “Pipo” Castro (MX2) e Antônio Balbi Júnior (Open)

2011 – França
Local: Saint Jean D’Angely
Posição final: 27º
Equipe: Marcello “Ratinho” Lima (MX1); Dudu Lima (MX2) e Antônio Balbi Júnior (Open)

2012 – Bélgica
Local: Lommel
Posição final: 32º
Equipe: Gabriel Gentil (MX1); Rafael Faria (MX2) e Marçal Müller (Open)

2013 – Alemanha
Local: Teutschenthal
Posição final: 31º
Equipe: Rafael Faria (MX1); Hector Assunção (MX2) e Anderson Cidade (Open)

2014 – Letônia
Local: Kegums
Posição final: 27º
Equipe: Roosevelt Assunção (MXGP); Rodrigo Selhorts (MX2) e Thales Vilardi (Open)

2015 – França
Local: Ernée
Posição: 27º
Equipe: Thales Vilardi (MXGP), Fábio Santos (MX2) e Jean Ramos (Open)

2016 – Itália
Local: Maggiora
Posição: 24º
Equipe: Fábio Santos (MXGP), Ramyller Alves (MX2) e Jean Ramos (Open)

2017 – Inglaterra
Local: Matterley Basin
Posição: 23º
Equipe: Ratinho Lima (MXGP), Fabio Santos (MX2) e Dudu Lima (Open)

2018 – Estados Unidos
Local: Red Bud
Posição: ?

Equipe: Gustavo Pessoa (MXGP), Enzo Lopes (MX2) e Fabio Santos (Open)

fonte: BRMX 
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Publicado por RAFA

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